Em uma sala de consultório empolgada com a leitura , de repente, o silêncio é interrompido pela simpática enfermeira trazendo à sala de espera um senhor com bengala à procura de um assento livre. Por destino, ao meu lado.
Naquele momento senti uma simpatia instantânea, fechei o livro e indaguei: - Precisa de ajuda? Respondeu lucidamente: - Não, apenas vou me sentar.
O senhor de 86 anos contou sobre sua vida... Por solidão, por simpatia ou apenas por prosa.
Aos 22 anos participou da 2º Guerra Mundial, viajou em um navio com 10 mil homens sendo 6 mil americanos para o fronte, e permaneceu por lá 2 anos. Na guerra, conheceu a Itália e França, capturou duas guarnições... Não matou ninguém, mas viu muita gente morta e sofrida.
Ganhou cinco condecorações ao mérito voltou para sua terra natal, casou-se, formou em direito e incentivou seu irmão que se tornou um exímio Juiz de direito e após Desembargador, as vésperas de aposentar-se, o irmão, foi condecorado por alunos da Universidade de Coimbra em Portugal que estenderam suas capas para homenagear o ilustre homem das leis.
Paulo, 86 anos, estava naquele consultório fazendo tratamento para recuperar seu joelho da queda ocasionada por um empurrão de crianças que corriam pela rua.
Terminamos a conversa nos apresentando e senhor Paulo seguiu com sua sabedoria em passos calmos e firmes, não tinha raiva das crianças e nem medo de seguir só.
Pensando sobre a conversa e as inspirações, fui interrompida por outra paciente sentada à frente com um tom de indignação:
- Nossa! Como pode andar sozinho sem ninguém para ajudar?
Pensei em silêncio voltando os olhos a leitura como se não tivesse ouvido o desabafo.
- Ele já foi à guerra... Vir ao médico deve ser um hobbie.
[continua...]